A Lenda dos Teasels -1.
- Giovanna Saggiomo
- 13 de out. de 2017
- 4 min de leitura
Era uma vez (porque afinal, uma boa história não pode desperdiçar a oportunidade de começar com era uma vez), em um reino muito distante e próspero, uma pequenina criatura feérica de pele rosada e cabelos vermelhos esvoaçantes chamada Briär.
Seu povo, os teasels, criaturas pequenas que em muito lembravam as fadas dos nossos contos de fadas, era governado à muito tempo pela família Körr. O rei atual, Tahr, havia perdido a rainha na noite em que seu filho nascera, e desde a morte de sua mãe, o jovem príncipe, de pele azulada e cabelos de um marinho tão escuro que pareciam quase negros, fora enviado para treinar além dos muros do castelo.
Briär e o jovem príncipe tinham algo em comum, eles eram algo que a muito tempo atrás, já fora visto como uma benção divina, mas agora, era quase uma maldição. Eles eram o que os anciões chamavam de puros.
Um teasel puro não é capaz de se conectar com todos os elementos da natureza, como todos os demais, mas sua ligação com o elemento que o apadrinhou é tão forte que haviam lendas de teasels capazes de abandonarem suas formas corpóreas e se fundirem totalmente à seus elementos.
Era fácil identificar um puro. Suas peles sempre tinham uma tonalidade diferenciada e também suas asas se desenvolviam mais rapidamente, uma vez que quando nasciam o elo elemental deles já estava formado, bastava apenas aprimorar.
Diferentemente do príncipe, porém, Briär vivia com seu pai num pequeno vilarejo bem ao sul da capital, numa pequena fazenda produtora de algodão.
Na maior parte do tempo, os dois viviam em relativo isolamento do restante do vilarejo, com exceção de algumas reuniões em que todos se reuniam para ouvir anúncios do rei.
Foi numa dessas reuniões que o choque veio...
- Cidadãos de Vinescane, - chamava o alto teasel de cabelos castanhos e dois pares de asas amarelas e negras. - O rei pede que todos aqueles que estiverem aptos se unam ao príncipe Khär em defesa das fronteiras. - um murmúrio baixo começou, mas ele falou mais alto ainda, visando calá-los. - Como bem sabem, os outros reinos têm atacado nossos grupos mais isolados, Khär vai liderar o grupo que vai expulsa-los de nossas terras e garantir a segurança de todo nosso povo!
Um grupo de teasels mais novos levantaram as mãos mais à frente. Eles haviam recém atingido a maioridade, mas todos exibiam as asas orgulhosamente.
Briär observava todos eles de seu lugar, no ninho dos esquilos. Seus pêlos vermelhos ajudavam a disfarçar toda a vermelhidão da teasel e mesmo seus gigantescos três pares de asas.
A reunião foi regada de gritos orgulhosos dos jovens que se animavam e se orgulhavam de sua espécie e que juravam honrar seus ancestrais.
Da voz do comandante que passava informações sobre as terríveis invasões dos demais povos e sobre vez ou outra um som de murmúrio entre os mais velhos que comentavam alguma coisa.
Briär já estava quase caindo no sono, enrolada ao rabo de um dos esquilos voadores quando ouviu um coro de gritos. Ela se ajeitou para que pudesse ver melhor o que estava acontecendo e foi quando viu um novo rosto subindo ao pelourinho para falar ao vilarejo.
Pele azulada, cabelos azul marinho longos. Ela não precisava ver muito mais para saber que se tratava do príncipe. O teasel ao lado dele tinha um corpo ridiculamente largo e um de seus pares de asa estava quebrado.
Ela já ouvira falar dele, Meriak Thrö. O teasel cuja afinidade com a terra era tão grande que era comparado com um puro.
Ele havia lutado ao lado do rei na grande guerra, perdera um par de asas por ele e agora estava treinando o príncipe que, segundo o rei, era um puro de terra, apenas tinha esse tom de pele azulado por ter tido problemas na hora do parto.
"Um milagre". Era o que todos diziam. Gentileza que nunca haviam dedicado à ela. Mas tudo bem, seria mesmo esperar demais esperar o mesmo tratamento que o príncipe.
- Querido povo de Vinescane! - o príncipe sorriu. Ele tinha uma voz não muito grossa, mas que se propagava bem, chegando facilmente até o ninho de esquilos onde Briär estava. - Eu fico pessoalmente muito contente em ver que tantos de vocês desejam se juntar à mim, mas estava muito curioso antes de vir até aqui. Ouvi dizer que existe uma pura entre vocês.
Briär abriu um dos olhos e olhou para baixo outra vez. Teria ela ouvido certo? O que o príncipe poderia querer com ela?
O silêncio se prolongou.
- Eu... Estou enganado?
- Ahn, não vossa alteza. - a garota de olhos azuis tomou a frente. Bridget, possivelmente a única teasel com quem Briär falava além do pai se pronunciou. - Briär é... Bom, tímida. Ela não costuma participar das reuniões.
- E por que não? Estou certo que alguém como ela deve ter alguma voz aqui no vilarejo.
- Bem, não. A maioria do pessoal aqui meio que... Não dá muita bola para ela...
- Bridget! - a mãe de Bridget acenava para que ela se calasse.
- Entendo. - o príncipe concordou com q cabeça. - Bridget, não é? Muito obrigado pelos esclarecimentos.
Bridget se curvou educadamente em sinal de respeito e logo voltou a se calar.
- Bem, imagino que terei de ir atrás dela eu mesmo então. Um outro puro é uma parceria que não posso deixar escapar.
- Vossa alteza, a muitos anos apenas nasce um puro por geração. O nascimento dessa garota pouco depois do senhor, só pode ser sinal de mal-agouro! É melhor evitar!
A velha Frida avisava de seu lugar, sua intenção até poderia ser boa, mas o príncipe a olhou de forma breve e fechou o rosto.
- Sou eu quem decido isso e digo que num momento como esse, de guerra, minha melhor chance é ter essa garota ao meu lado. Se eu fosse vocês, torceria para que ela ainda esteja disposta à aceitar ficar ao lado de vocês. Eu não quereria estar do lado oposto ao de um puro de fogo.
Por um segundo, não só a velha Frida, mas também muitos dos anciões ao redor dela seguraram seus fôlegos.
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