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Andarilhos do Alvorecer. 5.

  • Foto do escritor: Giovanna Saggiomo
    Giovanna Saggiomo
  • 1 de out. de 2017
  • 5 min de leitura

Foi quando um vento forte atingiu minhas costas, quase me empurrando para a frente. Por sorte, eu já estava no chão, ao contrário de John que foi lançados cerca de um metro para trás.

- Mas que merda...?

John e eu nos viramos para ver a origem dos ventos fortes quase ao mesmo tempo e qual não foi minha surpresa ao encontrar Benji de pé, poucos metros atrás de mim, com a mão direita estendida em nossa direção.

- Sacrificar membros não torna um grupo mais forte. - Benji falava com uma calma quase digna de um monge, enquanto caminhava na minha direção. - Cuidar por todos os membros do grupo, não torna o líder mais fraco. - ele estendeu a outra mão em minha direção. - Mia?

Eu tomei a mão dele e me levantei, ainda sem entender o que estava acontecendo. O que eu havia visto, ou melhor, o que eu achava ter visto, era impossível.

Era impossível que Benji houvesse criado aquela ventania... Não é?

- Calado!

John avançou contra nós dois mais uma vez, mas com um simples movimento de punho de Benji, outra rajada de vento o forçou para trás.

- Impossível... - a palavra saiu de meus lábios como um sussurro, mas dos lábios de John como um grito de revolta. Ele baixou a espada. - Se prepare, Mia. Você não vai ter sempre esse... Bruxo... Ao seu redor para salvar a sua pele...!

Mas antes que ele pudesse continuar com suas ameaças, Benji voltou a empurra-lo para trás com os ventos causados por seus movimentos de punho.

John tentou lutar contra um pouco mais, mas acabou por ceder e sair correndo atrás de onde Eaton havia ido.

Eu fiquei algum tempo encarando o local onde John estava, ainda digerindo tudo que havia acontecido... Não com facilidade.

- O-o que... Foi isso?

- Ah, isso? - Benji acenou a mão na minha direção. - Bom, era sobre isso que queria falar com você. - ele sorriu, sua expressão retomando o jeito pacífico de antes de nossa interrupção. - Os Caminhantes da Alvorada convida você e seu grupo à se unir à eles.

- Todos nós?

- Todos vocês.

- Vou comunicar os outros. Se for o desejo da maioria, aceitaremos o convite. Mas, Benji, isso não responde a minha pergunta.

- Não mesmo, mas não posso falar mais do que isso fora de nossas paredes.

- Eu já tive minha cota de grupos com segredos.

- De fato. Mas te garanto que esse não é tão problemático quanto querer expulsar membros do grupo. - ele encarou minha levantada de sobrancelha. - Tem minha palavra.

Ficou decidido que nos reuniríamos naquela noite mesmo, durante o jantar para discutir a proposta de Benji.

Eu não havia contado aos demais do misterioso vento que ele era capaz de gerar, ou mesmo como aquilo salvara a minha vida, afinal, o segredo não era meu para contar.

Porém, uma boa parte de nosso grupo parecia receoso em se juntar à outros.

- Mia, minha filha... - a Sra. Smith começou, olhando Benji de rabo de olho. - Não é que não confiamos em seu julgamento, mas todos nos lembramos do que houve da última vez que estivemos em meio à um grupo grande...

- A Smith está certa. - o Sr. Sheng acariciava as próprias mãos ao falar. - A Fornalha também havia dito que éramos bem vindos, mas não mantiveram sua palavra. Não temos como confiar nesse desconhecido.

- Só confiamos em você, Mia querida. - a Sra. Ruth tinha um sorriso amável no rosto ao dizer aquilo, como se apenas seu elogio não fosse o suficiente para me deixar contente. Ela era uma das mais velhas, mas ainda assim, se negara a nos revelar seu sobrenome, sempre insistindo que usássemos apenas seu primeiro nome. - Não é pessoal, meu jovem, mas muitos já faltaram com suas promessas para conosco.

Ela se explicou à Benji, mas ele apenas acenou com a mão, em sinal de que não havia levado como ofensa.

- É apenas um convite, não precisam se desculpar se as senhoras preferirem não aceitá-lo.

Apesar da recusa das senhoras, todos os membros mais novos eram à favor, eles sabiam, assim como eu, que nossas chances de sobrevivência seriam maiores num grupo maior, por mais que os demais parecessem receosos.

- Mia... - Anton sussurrava baixo próximo do meu ouvido enquanto os demais discutiam. - Sabe que precisamos aceitar. Só existe um tanto que um grupo pequeno como o nosso consegue fazer. Mesmo em questão de sistemas de segurança ou o que seja...

- Não vou forçar elas à se mudarem novamente, Anton. Sabe que não posso fazer isso.

- Entendo. Mas acho que seria válido você expor como se sente quanto à essa mudança. Talvez ajude-as a se sentirem mais confiantes.

Eu concordei com a cabeça. A verdade é que preferia não me meter durante o processo de decisão delas, mas Anton estava certo quanto à quanto nós poderíamos fazer com nossos números atuais. O motim de Eaton e John era uma prova disso.

Fôssemos um grupo maior, eles jamais teriam chegado tão perto de nos vencer. Talvez nem tentassem.

- Vejam... - comecei, respirando fundo antes de começar. - Eu não vou força-las à ir. Se preferirem ficar, mesmo depois do que eu disser, eu vou ficar com vocês, até quanto quiserem. Mas é importante ressaltar que o que Benji está nos oferecendo, é uma oportunidade de sobrevivermos... Bem, melhor do que a que temos aqui.

Todos permaneceram em silêncio para que eu continuasse.

- Hoje, quando John e Eaton tentaram tomar o comando, eu provavelmente não teria resistido, não fosse pela ajuda de Benji. Por mais que nosso grupo seja estável, ele é pequeno. Só existe um tanto que conseguimos fazer. - eu juntei as mãos e ajeitei a coluna. Sentindo a pressão e responsabilidade de minhas palavras ir pesando sobre mim. - Sendo assim, peço que considerem que nossas chances de sobrevivência são melhores se aceitarmos esse convite.

As senhoras se entreolharam e sussurraram algo entre si.

- Mia, minha querida... - a Sra. Ruth tinha as mãos relaxadamente sobre o colo. - Você realmente acredita que estaremos todos mais seguros se formos com ele?

- Sim, Sra. Ruth, acredito. - eu acenei com a cabeça. - E se por acaso alguém dos Caminhantes resolver cometer o mesmo erro que a Fornalha, eu não só irei com vocês, como irei garantir que eles não esqueçam que estavam mexendo com as pessoas erradas.

Ela levantou as sobrancelhas por um segundo, depois, deixou que um sorriso tomasse os lábios.

A sra. Ruth tinha dessas de vez em quando, uma elegância em cada gesto que me fazia questionar se ela não era algum tipo de granfina ridiculamente chique e bem educada.

- Sendo assim, eu não tenho nada contra irmos. - ela me sorriu outra vez antes de se voltar às demais. - E vocês, suas dinossauras velhas? Preferem morrer aqui e deixar seus filhos e netos para morrerem aqui sozinhos ou levá-los até um local mais seguro?

As demais se entreolharam antes de cair na risada, concordando com a cabeça.

- Bem, quando iremos? - a sra. Martinez sorria.

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