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Andarilhos do Alvorecer. 4.

  • Gi Saggiomo
  • 2 de ago. de 2017
  • 4 min de leitura

- Mia! Mia!!!

- Fala, TJ!

TJ era um garoto novo de olhos redondos cor de mel. Seu cabelo volumoso balançava conforme ele corria.

- Tem um homem vindo! Um andarilho!

- Ele está sozinho?

- Sim! Nenhum mastigador! Mas ele parece ferido!!!

Corri para os portões junto dos três e ordenei que abrissem os portões. O homem caminhava mancando em nossa direção, eu puxei meu arco e dei um passo para fora.

- Alto! Quem vem lá?

Ele parou e olhou na minha direção. Pareceu tentar responder, mas não consegui ouvir, como se ele não tivesse forças o suficiente para isso.

- Você foi mordido?

Ele fez que não com a cabeça.

- Coloque as mãos para o alto, vamos pegar você.

O homem obedeceu e ficou ali parado, mas antes que eu tivesse a oportunidade de me aproximar o suficiente para lhe fazer novas perguntas, o homem caiu desmaiado na areia.

Eu tentei segurar ao menos sua cabeça, para impedir maiores ferimentos, mas o restante de seu corpo foi ao chão.

Fraqueza, uma costela aparentemente quebrada, inanição e alguns hematomas pelo corpo, mas nenhuma marca de mordida.

Aquele homem parecia estar brigando uma guerra inteira sozinho e sinceramente, não sabíamos a quanto tempo ele estava andando por aí, mas era um milagre ele ainda não ter virado uma refeição.

Esperamos cerca de 2 dias para que ele acordasse, dois dias esses em que eu quase enforquei John por me questionar por que gastar medicamentos com um desconhecido, mas, aparentemente John começara a levar minhas ameaças a sério, pois decidira me dar uma pausa pouco antes do rapaz acordar.

Ele estava bem desorientado quando pousou os olhos em mim.

- Você cumpriu a promessa de me colocar para dentro. - foram as primeiras palavras dele para mim.

- Eu tenho esse costume, de cumprir promessas. - sorri. - Mas claro, isso só foi possível por você não ter mentido.

- Eu tenho esse costume, não mentir.

Sorri para ele e me afastei um passo, lhe dando mais espaço.

- Então, qual é seu nome?

- Benji.

- É um nome incomum.

- São tempos incomuns.

- Isso são mesmo. - concordei. - Então, Benji, o que houve com você para estar tão quebrado e tão longe de tudo? Não sabemos de nenhum outro grupo aqui por perto.

- Eu estava tentando chegar até a Fornalha, mas cheguei tarde.

- Bem... Isso vai ser interessante. - puxei uma cadeira e me sentei. - O que queria com a Fornalha?

- Por que a pergunta?

- Temos três dos ex-conselheiros dela aqui. - O espadachim e o arqueiro, John e Eaton. E eu.

- Você era uma conselheira da Fornalha?

- Sim. A desertora.

- Oh! - por um segundo ele pareceu perceber algo. - Quando disseram de uma conselheira que havia fugido com os idosos, eu achei que ela seria idosa também. Eu estava te procurando, Mia. Você e os seus.

Eu ia perguntar o que ele queria dizer com aquilo quando ouvi um grito de Anton.

- Sra. Gomes, cuidado!

Saltei para fora da cadeira e abri a porta, uma flecha passou raspando por minha bochecha, rasgando minha pele, o que me arrancou um rangido de dentes de dor.

Eaton tentava atirar flechas contra Anton e Jeff que protegiam os idosos, TJ estava juntando pedras para seu estilingue, mas John já estava se amontoando para cima dele e ao contrário de Eaton que estava errando devido à dor, John estava em perfeito estado.

Os demais resgatados com os outros dois, pareciam não saber o que fazer.

- TJ! Cambalhota! - eu ordenei enquanto puxava meu arco.

A criança olhou para trás e escapou por um fio da lâmina, que errou seu corpo ao ser refletida por minha flecha.

Uma flecha. Uma flecha que eu acertei com precisão na vida toda. Que bom que era aquela.

TJ correu para perto da avó e ajudou os outros dois a atacar Eaton. Ele acertou o ferimento de Eaton com uma pedra e o homem urrou de dor.

Eu guardei o arco e puxei minha espada, tendo conseguido a atenção de John para mim, me defendia dos ataques dele com muita dificuldade.

- Jeff! Anton! Levem todos para um lugar seguro, aproveitem que Eaton voltou a sangrar!

- Mas Mia!

- Vai!

John e eu voltamos a trocar ataques e eu podia sentir que ele estava apenas brincando comigo, me dando ataques laterais para me ver cambalear de um lado para o outro.

- Que idiota. Sua melhor chance era deixar Eaton se distrair com os alvos fáceis e usar os dois para me derrubar.

- Eu não preciso deles para derrubar você.

- Vai me derrubar com que? Com sono ou tédio dos seus discursos? - ele deu um ataque lateral mais forte, me derrubando no chão. - Esse é o problema, Mia. Mesmo quando você tem um grupo forte. Você escolhe os mais fracos.

A batida forte contra o chão deixara meu ombro dolorido, mas eu sabia que ele ainda não havia terminado, a espada não havia sequer encostado em mim e eu havia sempre sido uma pedra em seu sapato.

Ele levantou a espada outra vez e eu apenas fechei os olhos, esperando o encontro da espada contra minha pele. Eu não era rápida o suficiente para alcançar minha espada antes de ele me atingir e não iria me curvar diante dele, iria morrer? Iria. Mas morreria como um incômodo, como de costume.

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