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The Missing: 4.O Vídeo

  • Gi Saggiomo
  • 1 de jun. de 2017
  • 6 min de leitura

- Mas que palhaçada é essa? - perguntou o homem mais velho, na cabeça da mesa.

- Ué, o senhor não gosta de filmar as brincadeiras que faz para depois distribuir para os amigos...? Eu estou apenas preparando o nosso palco... - era impossível ver a fonte da voz, mas era uma voz feminina jovem e provocante, brincalhona até. - Agora deixe-me começar...

A câmera parou outra vez na beirada contrária da mesa, dessa forma, era possível ver todos os homens ali.

- Três anos atrás, alguém invadiu um dormitório universitário, roubou todas as mais de duzentas peças de coleção de sua habitante, sua cachorra e matou sua gata. - um dos homens do lado direito da mesa já chorava ao ponto de soluçar. - Você sabe algo sobre isso, amorzinho?

- Há! - o homem na cabeceira riu. - Apenas o que todos sabem, que é uma história muito triste. Talvez até uma lenda urbana, já que a menina desapareceu em seguida...

- Entendo... E você, BJ... - o filho do homem na cabeceira tremeu ao ouvir o que parecia ser a menção de seu apelido. - Gostaria de dividir algo a respeito...?

- N-não...

- Ah... Que pena.

A câmera deu zoom num dos homens mais novos da mesa, parecia ter quase a mesma idade do tal BJ. Era um jovem de cabelos raspados e barba por fazer, os olhos verdes pareciam seguir quem quer que fosse que havia mexido na câmera.

Quando ela entrou no quadro, usava um elegantíssimo vestido magenta. Um decote em formato de gema revelava o interior de seus seios fartos. As costas eram abertas revelando a pele pálida e a saia rodada revelava uma boa parte das coxas e pernas musculares e torneadas.

O delegado mal notou que estava encarando a figura na imagem até notar a garota puxar algo de seu cabelo, um palito oriental fez longos cabelos ondulados prateados quase liláses caírem contra as costas dela, seus olhos castanhos eram a única parte escura em toda sua figura com exceção das pintas na pele.

- Então com certeza absoluta não foi nosso querido Bandit aqui que invadiu o sistema do dormitório e liberou as travas da porta principal, das escadas de emergência e do quarto dela, certo..? - a garota passou a mão pelo rosto do rapaz de cabeça raspada, ele suava frio, era possível ver que rangia os dentes. - Afinal, precisaríamos de um hacker bem talentoso, para se infiltrar num sistema universitário. Você é bom, não é, Bandit...?

- ... - o homem de cabelo raspado permaneceu em silêncio, ao menos, até a garota abaixar-se e sussurrar algo em seu ouvido. - O melhor.

- Seria capaz, não...?

- Com uma mão nas costas.

- E faria se seu melhor amigo lhe pedisse?

O silêncio invadiu a sala. Por um segundo, pai e filho trocaram um olhar. E depois, olharam na direção do hacker. O rapaz, Bandit, ficou em silêncio por longos instantes, até a garota arranha-lo na nuca, como se fosse segura-lo pelos cabelos, se ele tivesse.

Ele rosnou e voltou a olhar a garota, descontente.

- Faria.

- Ah, obrigada. Eu sempre fui super fã das suas habilidades. - a garota sorriu, tirou as mãos do mesmo e se sentou na mesa, apoiando as longas pernas sobre o colo do hacker. - Sabe, eu sempre gostei mais de você, Bandit. Mas sabendo que além de tudo é mais honesto que os outros... Vou te deixar por último.

...

O delegado do outro lado não conseguiu controlar o sussurro que escapou de seus lábios.

Por último...? - mas, outra vez, ele sabia muito bem. A garota havia avisado sobre a natureza do vídeo no arquivo de texto. E mesmo que não houvesse... Ele já devia saber pelos últimos presentes que ela havia lhe deixado, o que esperar desse também. - Então, por que filmar...?

Essa parecia ser afinal a pergunta de um milhão de dólares. Por que essa ocasião era tão diferente das outras para merecer um vídeo? Será que ela sabia que ele se questionava se ela era mesmo capaz de tamanha chacina? Ou será que queria provar alguma coisa?

Ele poderia continuar com as perguntas para sempre e provavelmente não chegaria à uma resposta, mas um barulho no vídeo o trouxe de volta.

...

- Saia! Saia de perto de mim! - o homem que chorava desde o começo do vídeo agora gritava conforme ela o olhava, bem de perto. - Sua... Sua Bruxa!!!

- De que é mesmo a sua empresa, Tio Anton? - ela esperou um pouco, mas não recebeu resposta, tudo que o homem fazia era gritar. - Ah! É! Transporte de carga, né? Você tem aqueles caminhões silenciosos que permitem o transporte noturno e sem atrapalhar o sono das pessoas ao redor! É bem legal, hein?

- O que você quer de mim? - o homem meio gritava, meio chorava. Desesperado.

- Você retirou os bens roubados daquele apartamento invadido a três anos atrás?

- Não!

- Não?

- Não!

- Entendo... Que pena.

O homem voltou a soluçar enquanto chorava, mas a garota seguiu, do hacker e do dono da empresa de transportes, até os homens que se passaram por estudantes para entrar no prédio para carregar as coisas e fingindo que estavam indo visitar alguns amigos. Todos ali pareciam estar de alguma forma envolvidos com o crime.

- E daí? - perguntava agora BJ, cujo suor frio escorria e pingava contra sua camisa, revelando o peito que já chacoalhava com a respiração ofegante. - Isso só quer dizer que poderíamos ter feito! Não que fizemos!

- É verdade. Se essas fossem minhas únicas provas, com certeza, seria apenas sinal de que vocês poderiam ter feito. Não de que fizeram.

A mesa ficou em silêncio.

- Acham mesmo que seus homens estão mortos porque não entregaram vocês? - o silêncio era tão pesado que possivelmente se uma gota de suor caísse no chão pareceria uma tsunami. - Eu os matei porque eles estavam todos ainda trabalhando para vocês, apesar do que haviam feito. Eu sei onde esconde minhas coisas, BJ, especialmente depois que não consegue mais desova-las porque elas parecem símbolos de má-sorte... Eu fiz isso para me poupar trabalho. Achei que se matasse todos que tivessem coisas minhas de forma bem sangrenta, mais ninguém iria querer colocar o seu na reta por elas.

- Você... - BJ parecia ter visto um fantasma, ele começava a gaguejar e lágrimas beiravam os seus olhos. - É impossível! Você... Você deixou de existir! Você não existe!

- Ah, eu existo sim. - ela deu um único tapa com as costas de sua mão contra o rosto dele. A pedra de diamante lhe rasgou a pele e o sangue espirrou na mesa. - Acha que alguém que não existe poderia lhe causar isso?

A mão dela estava vermelho incandescente tamanha a força que ela colocara no tapa, mas ela sorria conforme o rapaz gritava de dor. O pai, apenas olhava na direção dela, em silêncio.

- Você não está brigando comigo por eu estar batendo no seu filhinho. Por que não? Por acaso ele não estava apenas seguindo as suas ordens?

- Pfft. - o pai virou o rosto, como quem não quer ver. - Eu não mandei isso. Mas ainda assim, ele é meu filho.

- Foi por isso que o ajudou a encobrir as provas?

Eles todos ficaram em silêncio, por um bom tempo, a garota se afastou deles, caminhou até um móvel no canto e começou a pegar dali diversos canollis, colocando-os um em cada prato.

- Se querem saber, não faria diferença, eu os mataria de qualquer forma. Apenas talvez de forma mais rápida.

Ela colocou um canolli diante de cada um deles, depois, se sentou na mesa outra vez ao lado do hacker.

- Vocês têm uma escolha, o canolli diante de vocês está envenenado. Se os comerem, vão morrer por veneno. Se ao acaso se negarem a comer o canolli, vão concordar com o meu julgamento, o que quer dizer que podem ter uma morte... Mais criativa.

Os homens na mesa se entreolharam.

- E como pretende que façamos isso se estamos amarrados? - perguntou BJ.

- Abaixando a cara até a comida e chafurdando a cara nela como o bando de porcos que são.

Alguns homens pareciam ferver de raiva e era evidente que eles queriam lhe berrar de volta os mais indelicados impropérios que pudessem pensar, mas o que chorava deu um último suspiro desesperado antes de obedecê-la.

Os demais, pouco a pouco, se uniram à ele, parecendo resignados que aquilo era melhor do que o que quer que fosse que a garota fosse querer fazer com eles.

Pareciam tentar entender como haviam ido parar ali, mas o clima tenso e sério se quebrou quando aquele que chorava começou a comer seu canolli. Ele foi seguido de perto pelos demais que pareciam resignados que aquilo era melhor do que quer que fosse que ela escolheria para eles, ao menos, até o primeiro deles soltar um grito abafado de horror.

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