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The Missing: 3.O Novo Delegado

  • Gi Saggiomo
  • 31 de mai. de 2017
  • 5 min de leitura

Passaram alguns meses para que o capitão por fim conseguisse um novo delegado para aquele distrito, as lendas se espalhavam rápido, ninguém mais queria assumir a responsabilidade de ficar seguindo cartas e emails que vinham de todo o lado para encontrar um mar de sangue cheio de corpos e alguns bonecos.

Foi quando um rapaz relativamente novo, recém-formado delegado, aceitou o cargo. Todos apostaram que ele não aguentaria sequer o primeiro email, mas desde a chegada dele, já havia aguentado mais que o último.

- Quantos itens faltam? - perguntou o delegado, após voltar com mais uma caixa de bonecos, tinha sangue até nos cotovelos de sua camisa.

- Perdão, delegado? - perguntou o robô mais próximo, que parecia fazer o inventário do que ele havia acabado de trazer.

- Quantos faltam no total, contando com todos que foram encontrados até agora?

- Oh, cento e sessenta e três.

- Mais de três quartos dos itens ainda.

- Sim.

- Imagino que eles estejam encontrando dificuldade em se livrar dos itens agora que os corpos estão aparecendo. - o delegado comentou baixo, pensando consigo mesmo.

- Devo deixa-los com os outros, delegado?

- Sim, por favor.

Passaram mais alguns meses até o próximo contato dela. Quando o delegado estava chegando na delegacia, um garoto baixo de jeans rasgados estava sentado na calçada.

- Hey! Moço! Você que é o delegado, né? - ele perguntou, sem tirar o pirulito que chupava de dentro da boca.

- Sou sim. Por que? - o delegado estaria mentindo se dissesse que gostava de crianças, talvez por isso seu teste vocacional apenas o houvesse indicado profissões que o mantinham o mais longe o possível delas. - Se houver algo que gostaria de reportar, os robôs na recepção podem te ajudar.

- Ah, não! Eu estou tranquilo! - a criança sorriu, mal interpretando a vontade do delegado de livrar-se dela por preocupação. - É que a moça me deu esse pirulito se eu te desse isso daqui.

O garoto estendeu algo na direção do delegado, de início o homem não conseguiu identificar o que era, de forma que ele foi forçado a se aproximar mais para tentar identificar.

- Ela disse que é um pen-drive do super-herói favorito dela. Ela disse que queria que você ficasse com ele! Bonito, né? Apesar de pen-drives serem algo meio... Ultrapassado. - o garoto explicou o que era com um sorriso, antes de depositar o pequeno objeto na mão do delegado.

De fato, a maioria das pessoas utilizavam apenas o armazenamento na nuvem, que era bem mais prático, mas só de ver o formato do drive, ele já sabia exatamente quem tinha mandado.

- Ela ainda está aqui?

- Quem?

- A moça que te deu o drive!

- Ah! Não. Eu prometi pra ela que ia te entregar, ela agradeceu, me deu o pirulito e foi embora.

- Você conhece ela?

- Não.

- Então como ela podia simplesmente ter ido embora depois de te dar as coisas?

- Hey! Eu sou um homem de palavra!

O delegado só notara agora que provavelmente ofendera o garoto ao questionar sua honra, mas não era algo que ele havia questionado por mal.

O que o delegado realmente queria saber era se a garota não estaria ao redor deles, os observando.

- Como ela era?

- Ah, era bonita. Tinha um sorriso g...

- Não, não isso. Ela era alta, baixa, magra, morena, loira...?

- Bom, delegado, não dava pra ser tudo isso junto, né?

O delegado estava quase desistindo quando a criança voltou a falar.

- Ela estava de moletom e capuz, então não vi o cabelo. Mas tinha os olhos marrom, que nem os seus, delegado.

O delegado gostaria de dizer que aquela informação era praticamente inútil, afinal, a maioria da população tinha olhos castanhos, mas a verdade é que não era assim TÃO completamente inútil, afinal, a garota tinha olhos castanhos e ele achava mesmo se tratar dela.

Ele agradeceu, pois tinha a impressão que enlouqueceria se continuasse questionando o garoto e entrou na delegacia com o drive.

Conectou-o à máquina e observou os únicos dois arquivos que haviam nele, um arquivo "leiame.doc" e o outro "assistame.mov".

Ele hesitou por um instante, mas decidiu por começar pelo arquivo de texto, afinal, ela parecia gostar de guia-lo por textos.

"Querido Prado,

Primeiro, gostaria de agradecer e parabeniza-lo por ainda estar sentado nessa cadeira. Homens mais velhos que eu ou você juntos já estiveram aí e não aguentaram a pressão.

Sinto que você seria o tipo de policial que eu teria gostado de encontrar naquele dia. O tipo que não desiste e que vai até o fim.

Mas, vamos ao assunto, eu tenho três notícias para você, duas boas e uma ruim.

Vou começar pela ruim, para que possamos encerrar de forma otimista.

Eu lamento informar que deixei mais corpos para você. Mas a primeira notícia boa, é que esses serão os últimos. Eu encontrei todo o resto das minhas coisas lá. A outra notícia boa é que como eram muitas, eu levei elas até você.

Vou te dar uma dica. Nenhum policial robô vai trabalhar de Tesla.

Não se preocupe, ela é segura, eu mesma a dirigi até aí, mas, lamento não poder da-la de presente para você, afinal, não é minha. Eu peguei de um dos homens que matei. Acho que ele não vai mais usar, cá entre nós.

Falando nos mortos, você vai encontrar o endereço para os corpos numa carta no carro.

Cuide-se bem e eu espero que continue trabalhando aí.

Ah, referente ao vídeo, assista quando estiver pronto e sozinho."

O homem parou, leu o documento outra vez e depois mais uma. Olhou depois pela janela de sua sala, cujas persianas metálicas viviam fechadas, apenas para encontrar um Tesla de rodas eletro-magnéticas, um modelo bastante esportivo, estacionado de frente para ele.

No vidro da frente, escrito com um batom rosa, estava escrito um grande "Cuide bem de tudo por mim, Prado. Com carinho."

O delegado soltou um suspiro e deixou que as persianas se fechassem atrás dele outra vez.

Se o carro estava lá até agora, poderia esperar um pouco mais. Não só, ele detestava afirmar, mas começava a questionar se realmente era a garota a responsável pelos crimes.

Ela claramente era a mandante, mas ela não parecia ser capaz de fazer mal à uma mosca, ao menos, nos contatos dela com a polícia.

Ele fechou o documento em texto e abriu o vídeo.

Ele reconheceu de imediato o rosto ao centro, era um homem velho e poderoso envolvido em diversos escândalos sexuais, mas daquele tipo que nunca seria condenado por nada. Ao lado dele, um rapaz mais novo muito parecido com o mesmo. A câmera rodou, mostrando que eles estavam acompanhados de pelo menos mais treze homens, todos sentados numa longa mesa de jantar em alguma mansão bem rica.

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