Cecillia: 27
- Giovanna Saggiomo
- 8 de jul. de 2016
- 4 min de leitura
Quando acordou a dor no peito causada pelo choro inconsolável havia lhe dado uma trégua. Não que não doesse mais, doía, mas agora doía apenas o suficiente para que ela pudesse ignorar...
Cecillia acreditava que aquela dor seria constante, então, só lhe restava se acostumar à mesma.
Levantou-se devagar, sentindo as costas e ombros estralarem à cada mínimo movimento... Era difícil se mover... Sentia que todo o peso do mundo estava sobre seus ombros e era de fato peso demais para alguém carregar sozinho...
Por um segundo lembrou-se de Harry... Como ele conseguia continuar caminhando e lutando?
Naquele momento ela sequer conseguia sair da cama... E então, lembrou-se de Narcissa Malfoy...
Solitária numa possível cama de casal gigante em algum dos quartos ao seu redor... Será que ela também estava chorando?
Será que conseguira dormir? Será que conseguiria acordar...? E se levantar?
Como seria para ela se levantar sem o amado? Bem... Lucius já não estava mais ao lado dela havia algum tempo, desde que estava em Askaban após o grande ataque... Mas Cecillia tinha certeza de que estar morto e preso eram coisas completamente diferentes naquele aspecto...
Sim, aquela mulher que deveria estar chorando sozinha no quarto, e que apenas sairia do mesmo após ter secado todas as suas lágrimas e ter certeza de que estava imponente como nunca, precisava dela...
Ela precisava se levantar.
Levantou-se com pesar e abriu uma fresta na janela, mas ainda estava consideravelmente escuro...
Deveria ser mesmo muito cedo ainda... Ou talvez o clima estivesse acompanhando o triste amanhecer dos Malfoys, mas ela não conseguiria dormir mais mesmo que quisesse...
Arrancou fora as roupas que vestia num movimento rápido e atirou-se sob o chuveiro... Adorava aquela sensação... A água correndo por sua pele, levando embora os aromas tristes... A sensação de ardência nos olhos e a vermelhidão de suas bochechas... Levando tudo embora...
Deixando-a um recipiente vazio...
Pesado, abandonado, vazio, rejeitado e morto. Definitivamente, morto.
Vestiu um vestido negro, e ajeitou os cabelos, deixando o quarto após isso.
Desceu as escadas em busca de um copo de água, embora o cheiro da café-da-manhã já começasse a lhe encher as narinas, mas fora surpreendida quando chegou na sala e uma voz lhe chamou.
"Também não dormiu...?".
Cecillia puxou a varinha de dentro de um bolso na lateral do vestido e apontou na direção de onde vinha a voz.
Um Draco Malfoy com expressão cansada e algumas olheiras a observava um tanto quanto mal-humorado.
"Você tem mesmo que apontar essa varinha pra mim toda vez que for a primeira vez no dia que nos vermos...?" - ele mantinha uma expressão bastante insatisfeita no rosto.
"Desculpe..." - Cecillia agora guardava a varinha de volta, soltando um suspiro sem jeito. - "Não achei que fosse encontrar alguém de pé tão cedo...".
Draco parecia analisá-la por um instante, como se estivesse avaliando se ela não era mesmo um espião de Harry para matá-los enquanto estavam fracos...
Após a conversa da noite anterior, aquela situação lhe machucou um pouco o ego... Afinal, não haviam chego à conclusão de que estavam no mesmo barco?!?
"Não me olhe assim! Eu não pretendia atacá-lo!" - ela defendeu-se de forma mal-humorada.
"Eu apenas ia perguntar se algo no quarto não a agrada. Mas aparentemente o problema sou eu! Sempre que tem a oportunidade aponta isso daí para mim!".
A mágoa na voz dele, misturado à fúria acabou chocando-a. Bem, em partes. Ela já esperava que ele fosse estar furioso, mas, magoado era algo bastante... Novo.
Ele estava virando-se de costas para sair andando e batendo os pés quando a bruxa deu um passo na direção dele e segurou-o pela manga de sua elegante camisa cinza grafite.
"Espere, Malfoy, me desculpe." - ela sequer sabia como criara coragem para tocá-lo daquela forma, mas antes que pudesse dar-se conta, já estava acontecendo. - "Eu... Estou apenas um pouco assustada, não queria lhe apontar nada.".
Ele olhou para ela por sobre o ombro, ainda um pouco de lado.
Seus olhos cinzas pareciam desnudá-la. Não só no corpo, mas em toda a alma, era como o olhar de um grande felino, capaz de lhe paralisar nas bases, amolecer as pernas, incapacitá-la de afastar-se.
Era como mirar um grande espelho em tons de cinza.
Onde você pode ver seu próprio reflexo, ou melhor, seu próprio mundo sem cores, acinzentando aos poucos, perdendo o brilho, morrendo, apodrecendo e desfalecendo. Sem cor, sem vida e sem movimento.
Aquele olhar fora tão intenso que a bruxa acabou por segurar a manga dele ainda mais fortemente entre os dedos, conforme sua própria respiração lhe faltava, fazendo-a sentir falta de ar e tontura.
"Achei que já houvesse mandado que me chamasse de Draco, Cecillia..." - a voz dele fora pausada e lenta, parecendo infiltrar-se por suas roupas, sua pele, congelá-la por dentro.
O silêncio se prolongou até a eternidade, em equações cósmicas incompreensíveis e confusas que eram de entendimento ilimitado e inútil.
Atração magnética curta e interrompida bruscamente. De forma que quando seus rostos estavam bem próximos, uma voz vinda da escada o fez saltarem para longe um do outro.
"Que está havendo aqui?!?" - Narcissa Malfoy parecia bastante furiosa pela proximidade inexplicável de seu filho com aquela jovem saída sabe-se-lá de onde. E Cecíllia fora incapaz de pensar qualquer coisa para lhe responder a tempo.
"Eu estava explicando para Cecillia que não tenho interesse." - ele olhou para Cecillia uma vez e lhe abriu um olhar que beirava a malícia. - "Desculpe, mas você não faz o meu estilo,".
"..." - Cecillia ficou tão sem ação que levou alguns segundos para recuperar sua respiração. - "Malfoy!!! Seu, seu!!! Argh!".
Ela virou-se então de costas e saiu pela porta batendo os pés, indo certificar-se se todos os feitiços de proteção estavam funcionando corretamente.
Enquanto passava pela porta, ela podia ouvir Malfoy dando uma risada exagerada. Junto da risada dele, podia sentir o olhar clínico de águia de Narcissa em suas costas.
Mas que ótimo! Não só Narcissa agora ficaria atrás dela o tempo todo como também Draco ficaria lhe gozando a cara o tempo todo.
Malditos Malfoys e o instante em que ela resolvera deixar o pai e ir ajudar Potter. Agora sua vida seria um inferno! Tinha certeza disso!