Cecillia: 18
- Giovanna Saggiomo
- 16 de jun. de 2016
- 4 min de leitura
Quando Cecillia deu por si estava diante de uma casa bastante... Engraçada.
Era completamente diferente da mansão de sua família, com a qual estava acostumada. Era mais alta do que era larga. E tinha uma cor estranhamente acolhedora.
Tinha diversas janelas e quedas de telhado, e em cada janela uma cor diferente de cortinas.
O cheiro no quintal era de grama molhada misturada com algo que Cecillia não conseguiu descrever de outra forma que não fosse: algo para comer.
O cheiro era mais doce que salgado. Mas não lhe era enjoativo. Na verdade, muito pelo contrário. Fez o estômago de Cecillia remoer-se todo uma vez que ela ainda não havia comido nada desde a janta na outra realidade.
Cecillia levou a mão ao estômago na tentativa de impedir que ele roncasse, porém, Hermione parecia já ter notado a fome da mesma.
“Está com fome?” – Hermione sorriu e não esperou a resposta. – “Molly vai ficar feliz. Ela é um doce. Tenho certeza que irá adorar sua companhia para o almoço.”.
Cecillia pensou em retrucar ou defender-se, mas, se dissesse não estar com fome e o estômago roncasse ficaria numa reação ridícula. Sendo assim apenas concordou e sorriu.
“O cheiro é maravilhoso...” – ela então virou-se para Hermione. – “Essa Molly é Molly Weasley? Sua so... Hm...” – Cecillia mordeu a língua, provavelmente naquele tempo eles ainda não estavam casados. – “A mãe do Rony?”.
“Sim, ela mes...”.
E antes que Hermione pudesse terminar as explicações, Molly apareceu na porta, escancarando-a enquanto acenava alegremente para ela.
“Hermione!” – Molly sorriu e abriu os braços para que Hermione pudesse lhe dar um abraço, o que fez com que Cecillia se sentisse ainda mais um estranho no ninho. – “Você voltou mais cedo do trabalho, querida. Está tudo bem?” – e então os olhos de Molly Weasley caíram sobre a jovem ao lado. – “E quem é essa jovenzinha?”.
“Essa é...”
“Eu sou Cecillia. É um prazer, Sra. Weasley.” – Cecillia respondeu com o maior de seus sorrisos. Pela porta aberta ela podia sentir ainda mais fortemente o cheiro delicioso do almoço dos Weasley.
“Ora, querida. Pode me chamar de Molly, certo? Aqui não gostamos muito dessas formalidades todas... Você vai almoçar conosco?” - Molly sorriu, abraçando Cecillia de forma mais leve antes de convidá-las a entrar.
Cecillia e Hermione entraram na casa de forma receosa. Ambas olhando para todos os lados, certificando-se de que estavam sozinhas ali.
“Oras, mas o que houve?” – Molly mesma olhou em volta, sem saber exatamente o que as duas estavam procurando.
“É uma longa história...” – Hermione começou, soltando um suspiro. – “Molly, sente-se, certo? Nós vamos contar tudo.”.
Molly Weasley sentou-se numa das cadeiras da cozinha observando as duas. Suas expressões eram das mais variadas enquanto elas lhe contavam toda a história.
Na presença apenas de Hermione e Molly, Cecillia contou a história ainda com mais detalhes, parecia sentir-se melhor junto delas, ou talvez, tivesse tido vergonha de contar para os demais.
Contou sobre como mesmo após a reconstrução de Hogwarts seu sobrenome lhe era como um mal agouro, como mesmo os demais sonserinos lhe tratavam como a ovelha negra e como os anos em Hogwarts haviam sido difíceis.
Contou melhor sobre a relação com a mãe, e o quanto, com o passar do tempo, essa relação foi diminuindo até tornar-se nula.
Contou sobre o pai e o cachorro, e como eles eram uma família pequena e feliz.
Contou sobre como a formatura havia sido triste, sem ter amigos dos quais se despedir, e o quanto por mais difíceis que os anos em Hogwarts houvessem sido, parecessem bem melhores do que esses.
Contou que havia descoberto alguns diários da mãe, e o que havia neles. Sobre a tal maldição que a mãe nunca lhe explicara e nem sequer havia escrito no diário, o quanto ela era apaixonada e obcecada por Severus Snape e o quanto ela sacrificara tudo por ele. Mesmo a própria filha.
Ao fim da conversa Molly Weasley secava as lágrimas com um lenço, Hermione segurava as dela, e Cecillia deixava que as suas escorressem por seu rosto pálido e sem brilho, quase sem vida.
O silêncio que invadiu a cozinha quando Cecillia parou de falar era quase mórbido, como um luto por tudo que havia sido perdido por ela. Era frio, mesmo com o calor do almoço subindo entre elas.
O silêncio foi quebrado quando Molly Weasley levantou-se e abraçou Cecillia pelos ombros, chocando a pequena, que sequer notara que ela havia se movido.
Era um abraço morno. Carinhoso. Com cheiro de lar, de família. Com calor de gente.
Era bom. Muito bom.
Cecillia apenas entregou-se ao abraço, retribuindo depois de algum tempo, apoiando os bracinhos fracos nas costas de Molly.
“Você não está mais sozinha, querida. Agora você tem amigos e ninguém aqui ira te julgar ou culpar pelo que aconteceu. Você faz parte dessa família agora.”.
Cecillia soltou um sorriso fraco. Por dentro, ela culpava-se por não ter sido capaz de salvar o cachorro e o pai. Como poderia deixa-los de lado e continuar vivendo quando eles não poderiam fazê-lo?
Porém, ela não podia fazer mais nada por eles... Apenas poderia fazer algo pelo pai de agora, e pelos Weasley que a haviam recebido tão bem...
Então, suspirou, forçando-se a aceitar que agora, não havia mais volta...
“Obrigada, Molly...” – ela então se afastou um pouco para esfregar os olhos secando as lágrimas. – “Eu prometo que vou fazer o meu melhor para defender essa família...”.
“Eu acredito em você, Cecillia...” – Molly então acariciou a cabeça dela com um sorriso. Era uma boa garota. – “Agora, suba e ache uma roupa nas coisas de Hermione ou de Gina, certo? Logo o almoço estará pronto.”.
Cecillia sorriu e fez que sim com a cabeça, rendendo-se ao que Molly dissera, Hermione chamou-a com a mão, para que subissem juntas.
“Vamos, eu te mostro a casa e te ajudo a achar uma roupa.” – ela sorriu e começou a subir as escadas junto de Cecillia. – “Tenho certeza que encontraremos algo para você.”.
Molly Weasley observou as duas subirem as escadas, suspirando fundo antes de voltar a preparar a refeição para quando todos chegassem.
“Por Merlin... O que será de nós?” – ela parecia inconformada com o que Lillian Greenieart havia feito. Como podia uma mãe abandonar a filha daquela forma?