Cecillia: 13
- Giovanna Saggiomo
- 2 de jun. de 2016
- 5 min de leitura
Silêncio.
Vazio.
Escuridão.
Mas, de repente, a luz se fez de novo e Cecillia caiu sobre um tapete velho, verde e empoeirado.
Tentou se levantar, porém a perna doía e ela não enxergava nada, tateou então os bolsos do robe e encontrou sua varinha, apontando-a para cima.
“Lumos Maxima!”
Cecillia olhou em volta e identificou o velho porão da casa de seu pai. Será que ele estaria bem?
Seu joelho doía e ela então direcionou seus olhos para o mesmo, não parecia haver nada errado, mas, ela achara melhor certificar-se disso de uma maneira mais segura.
Apontou a varinha para o próprio joelho e respirou fundo. Teria de dizer esse feitiço muito claramente, ou poderia ficar ainda pior do que já estava.
“Braquium Remendo!”
E então notou porque os bruxos não lançavam esse feitiço em si mesmos, a dor no joelho a fez querer não ter tentado consertá-lo. Porém, felizmente quando a dor cedeu ela notou poder movê-lo normalmente.
Ela levantou-se então e subiu as escadas, abrindo a porta e saindo para a sala, onde um bruxo alto já a esperava com sua varinha em mãos.
“Quem é você?” - Alfred Liebfried encarava a garota desconhecida. - “Identifique-se!”
Porém, Cecillia não conseguiu conter o sorriso e as lágrimas ao ver que o pai estava bem.
“Você... Você está bem... Ah, papai!” - ela ria de alegria, porém, quando levantou a varinha junto dos braços durante a comemoração, foi desarmada por um Expelliarmus. - “Você não sabe quem eu sou, não é?”
Ela perguntou tristemente, observando sua varinha no chão atrás de si sem ter a intenção de ir pegá-la.
“Não. Por que me chamou de papai?” - ele então notou o quão azuis eram os olhos da garota diante de si. Azuis como os dele. - “Explique-se.” - e ele então baixou a varinha.
Cecillia explicou-lhe tudo sem nunca afastar os olhos do pai, como era bom vê-lo vivo, e então, quando terminou, tinha lágrimas nos olhos, o pai, porém, ainda parecia digerir tudo aquilo.
“Pap.. Ahn... Você está bem?” - ela então se abaixou e pegou sua varinha, guardando-a de volta no bolso.
“Então... Você é filha minha e da Lillian?” - ele parecia ainda confuso. - “E... Tínhamos um cão chamado Hans... E...” - ele então mordeu os lábios, mostrando o quanto aquela história o feria. - “E mesmo após casar-se comigo e termos tido você... Ainda assim ela fugiu para tentar salvar o Severus?”.
“É... Mamãe... Ahn...” - ela respirou pesadamente, era difícil explicar. - “Mamãe não passava muito tempo conosco... No nosso último dia... Digo, como família... Eu tinha acabado de voltar de Hogwarts e ela nem... Nem veio me ver...”.
Alfred parecia bastante chateado com toda aquela situação, de forma que ele agora olhava para o chão enquanto respirava pesadamente.
Doía demais ser trocado mais uma vez pela mulher que ele amava. Mesmo que aquilo ainda não tivesse acontecido, e jamais fosse acontecer, mesmo que aquilo não passasse de um sonho ruim... Doía demais ser trocado mais uma vez pela mulher que ele tanto amara... E a pior parte? Ser trocado por um homem que nunca trocara sequer uma palavra de amor ou carinho com ela.
Era como ser trocado por uma porta ou um armário... Algo sem vida ou sentimentos...
“Papai... Eu...” - ela abaixou o rosto sem saber ao certo o que dizer. - “Eu sinto muito... eu sei o quanto você a amou... E acredito que seja o mesmo tanto que você a ama agora... Eu sinto muito. De verdade...”.
Alfred olhou para a garota que possuía os seus olhos azuis e logo correu até ela, abraçando-a fortemente.
“Você é tão diferente de mim, e ainda assim, tão igual... Você tem os meus olhos, mas, os cabelos dela...” - ele então beijou a testa da filha. - “Eu acredito em você... Apenas...”.
“É bastante para digerir, eu sei...” - ela sorriu e beijou o pai na bochecha. - “Obrigada, papai... Você e Hans eram minha família, agora somos só nós dois...”- uma lágrima correu por sua bochecha, ela sentia falta do cachorro. - “Eu te amo muito, pai...”.
Ele abraçou-a mais forte. Era a primeira vez que alguém exceto os pais lhe dizia isso e agora ele entendia o porquê de eles dizerem tanto. Aquela maravilhosa sensação de ser amado por alguém, de ter alguém que lhe quisesse e lhe fizesse bem... E então, de repente, aparecera em sua vida alguém que dizia sem hesitar que o amava.
“Ah, minha filha... Eu também te amo...” - ele sorriu ao responder, sem entender bem o que estava acontecendo, era assim que ele se sentia, e então, de repente ele a girava no ar, uma vez que ela era baixinha, observando enquanto ela ria e se contorcia, tentando soltar-se.
“Heeey!” - quando ele finalmente soltou-a, ela apressou-se em apertar as bochechas rosadas do pai. - “Assim você me deixa tonta!” - ela riu olhando-o, como se de repente tudo houvesse se resolvido. - “Você fazia isso quando queria me deixar nervosa...”.
“Eu acredito, parece bem divertido...” - ele riu e logo tudo estava bem.
Quando ela parou de sentir-se tonta por causa das diversas voltas, resolveu ajeitar o robe que mostrava já um pedaço de seu pijama.
“Ahn... Acredito que você vá precisar comprar roupas novas, certo...?” - ele parecia meio desconfortável com o assunto. - “Me desculpe, eu não sou bom nisso, mas, lhe darei acesso ao nosso cofre em Gringotts para que compre tudo que precise.”.
“Ah, estou acostumada, papai... Você nunca foi às compras comigo, geralmente só opinava depois quando eu já estava usando a roupa... Ainda bem que sempre fui boa em mudar cores e tamanhos...” - e então os dois caíram no riso. - “Obrigada... Ahn...” - ela então bocejou, não havia dormido quase nada. - “Eu... posso tomar posse do meu... Digo... Do quarto que seria meu?”.
Era confuso, de fato, mas o pai pareceu entendê-la.
“Claro que pode. Precisa de ajuda?” - ele sorriu, já se levantando.
“Não... Não precisa, pai... São só alguns ajustes já que eu não trouxe nada na viagem corrida...” - ela sorriu sem jeito, seria difícil explicar melhor do que isso.
“Hm... Verdade, certo, ahn... “ - ele então corou um pouco, sem jeito. - “Acredito que encontrará roupas de cama nos armários velhos...”.
“Obrigada, pai... Boa noite?”
“Boa noite...”
Eles se despediram com um beijo na bochecha e ela logo subiu para o quarto, dando tempo e espaço para que o pai engolisse toda a história.
Com seus feitiços domésticos ela conseguira lavar a roupa de cama que estava guardada, secá-la e colocá-la rapidamente, logo se deitando e sentindo o quanto aquela cama era grande apenas para ela.
Grande, fria e triste. Ela concluiu. Agora, mais do que nunca, sentindo falta do cão, abraçando um segundo travesseiro que achara no armário.
“Boa noite, Hans... Onde quer que você esteja... Eu te amo, meu bebê.”
E então, no meio das lágrimas enquanto ela tentava segurar e controlar o choro, ela adormeceu.