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Cecillia: 11

  • Foto do escritor: Giovanna Saggiomo
    Giovanna Saggiomo
  • 28 de mai. de 2016
  • 3 min de leitura

A janta estava silenciosa.

Silenciosa o suficiente para eles ouvirem enquanto o gigantesco dogue alemão mastigava sua ração.

"Ahn...” - o pai e a filha falaram em uníssono, de forma que ambos também pararam de falar juntos.

“A mamãe... Ela.. Ainda está trabalhando naqueles vira-tempos?” - a menina olhou o pai de forma tristonha, afinal, a mãe ainda não havia vindo para vê-la.

“Sim...” - o pai respondeu sem saber o que dizer. Era demasiadamente doloroso ver a filha tão triste por causa da esposa. - “Eu sinto muito...”

“Não... Não precisa se desculpar, papai... Não é culpa sua...” - ela sorriu de forma ainda mais triste, acariciando o cão, que agora já beijava sua mão. - “Apenas... Queria que ela aparecesse... Mas...”.

“Eu vou chamá-la!” - o pai logo pôs se de pé para ir chamar sua esposa.

“Não!” - ela corrigiu, sinalizando para o pai. - “Se não é natural para ela, pai... Não adianta...”.

E mais uma vez o silêncio dominou a mesa. O cão terminou de comer rapidamente, para então sentar-se ao lado da dona e apoiar sua cabeçorra em seu colo enquanto ela jantava.

“Você e Hans são minha família, papai...” - ela terminou de comer calmamente e colocou os talheres sobre o prato. - “Obrigada pelo jantar...”.

Ela então se levantou e acariciou a cabeça do cão enquanto ele retirava-a de seu colo. Andou até o pai e beijou-lhe na testa e depois no rosto.

“Boa noite, papai...” - ela falou baixinho enquanto bagunçava levemente os cabelos loiros dele. - “Não se preocupe com nada, certo? E durma bem...”.

“Durma bem, filha...” - ele respondeu com um sorriso exausto. Estava furioso com a esposa, mas, não adiantaria nada falar com ela... Não adiantava mais desde que ela começara a desenvolver os vira-tempos. - “Até amanhã...”

A garota subiu as escadas com o cão ao redor de sua cintura, de forma que quando ela jogou-se contra a cama o cão atirou-se por cima dela sem pensar duas vezes.

“Eu queria que ela se importasse, sabe, Hans?”

Em resposta ela recebeu uma lambida na bochecha, enquanto o cão festejava seu retorno.

“Ah, você é um amor...” - ela sorriu para o cão e rolou na cama para poder pegar uma das bolsas que ainda estavam no chão. - “Quem é o cachorrinho da mamãe? Quem quer um presente?”.

O cão pulou da cama e rodeou-a toda enquanto latia, fazendo festa, pulando na cama após concluir a terceira volta, abaixando o corpo e fazendo sua típica carinha de bebê.

“Ah, você é meu bebê! Olha o que eu trouxe!” - e então ela puxou de dentro da bolsa um osso de borracha, atirando-o no chão.

O cão olhou para o osso de forma curiosa, e logo o mordeu diversas vezes.

“É um brinquedo mágico, com o passar do tempo ele vai mudando de sabor, eu espero que você goste...” - ela mal terminou de falar e o cão pulou sobre ela, lhe dando lambidas nas bochechas. - “Que bom que gostou...”.

Ela então rolou para o lado mais uma vez por baixo do gigantesco cão e conseguiu levantar-se da cama. Abriu os armários e começou a buscar por seu velho pijama verde, enquanto o cão já se deitava na cama, a espera de sua dona.

Após trocar-se ela deitou-se junto do cão e abraçou-o com um braço, rindo.

“Ah, que saudades de não dormir sozinha...”.

O cão soltou um latido, como se concordasse com ela, provavelmente o cão dormia sozinho em sua cama durante as aulas, uma vez que ela duvidava que o pai permitisse que o cão dormisse com ele, e que já fazia anos desde que a mãe internara-se na biblioteca.

A mãe... Aí estava o maior dos problemas de Cecillia.

A garota estava dividida se deveria sentir dó da mãe, por sua incapacidade de comportar-se como uma pessoa comum, e logo interagir com os demais... Ou se sentia ódio dela, por nunca ter dedicado seu tempo ou sua saliva para lhe dizer um elogio, e com o passar dos anos, sequer para vê-la.

Ela invejava os demais estudantes de Hogwarts, todos sempre recebiam presentes e cartas de suas mães, notícias... Era bem verdade que o pai e os avós esforçavam-se para que ela não sentisse falta disso, mas, era diferente...

Era diferente ouvir as meninas contando sobre como era gostoso deixar que suas mães lhes penteasse os cabelos e pensar nos presentes do pai... Eles eram bons, mas, não eram momentos únicos e nem ela podia conversar tanto com o pai quanto as demais meninas podiam com suas mães...

E assim, ela notara que embora seu pai fosse o pai mais maravilhoso do mundo, ele jamais poderia substituir a mãe. E quanto à mãe, Cecillia não tinha mãe.

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