Atalho: 1
- Giovanna Saggiomo
- 1 de mar. de 2016
- 7 min de leitura
A trouxa de cabelos encaracolados longos castanhos arruivados passou seus olhos azuis por sua rua, era um dia frio e era consideravelmente fácil ver uma finérrima camada de gelo sobre o asfalto.
Estava vazia, como de costume àquela hora, todos já haviam deixado seus lares e partido em direção a seus trabalhos ou estudos. Todos, exceto ela. Sempre ela.
Havia dois possíveis caminhos até a faculdade, um deles, era atravessando o velho mausoléu dos Gray, e o outro, era contornando o terreno sombrio do mausoléu.
A garota costumava contornar o mausoléu, mas, dessa vez, ela estava atrasada demais para isso, demais mesmo.
Ela respirou fundo e mordeu os lábios, sentindo um arrepio lhe descer a espinha enquanto atravessava os portões estourados do mausoléu e adentrava seu terreno cheio de pinheiros e eucaliptos, sentindo um corredor gelado de vento lhe entrar por dentro das mangas arrepiando seus braços finos.
‘Creepy...’ pensou a garota enquanto contornava a construção principal e se aproximava das janelas da sala, grandes e de vidros quebrados.
Suas pernas tremiam enquanto ela tentava atravessar aquilo tudo o mais rápido possível, até seu corpo congelar e travar ao ouvir uma voz orgulhosa ao longe.
“Por que isso tinha de sobrar para mim?” - indagou a voz de forma mal-humorada e preguiçosa.
“Oras, Draco, vamos logo. Não reclame, foi um pedido de sua mãe.” - uma segunda voz, essa mais calma e bem-humorada respondeu.
“Ah, cale-se, Blaise!” - respondeu Draco, dando um orgulhoso “hunf” escapar de seus lábios após sua resposta.
A garota engoliu em seco e se forçou contra a parede da construção principal aterrorizada, não reconhecera as vozes e o medo começava a fazer suas pernas tremerem. Porém, enquanto buscava apoio nas paredes, acabara pisando acidentalmente em um galho seco.
“Quem está aí? Revele-se!” - ordenou Draco, ainda invisível para a trouxa que estava contra a parede do mausoléu.
“Wingardium Leviosa!” - Blaise disse de forma calma.
A trouxa foi jogada ao ar, levitando completamente perdida e sem ação, deixando que sua bolsa caísse enquanto ela ainda tentava entender o que estava lhe acontecendo direito... Poderia aquilo ser verdade?
“Quem é você?” - agora a trouxa podia ver que o loiro já impunhava sua varinha em sua direção. - “Quem te mandou?”.
“E-Eu... Eu moro aqui ao lado! Só estava tentando chegar até a faculdade!” - a morena respondeu de forma mais que depressa, enquanto ainda se debatia no ar, tentando ajeitar-se.
“Draco, é uma trouxa!” - concluiu Blaise, completamente chocado, liberando a trouxa do feitiço e colocando-a no chão de pé, correndo para pegar a bolsa dela que caíra e lhe entregando em mãos. - “Me desculpe!”
Blaise era sempre galanteador com qualquer garota, bruxa ou trouxa, para ele não fazia diferença. Draco, porém, sentia-se desconfortável.
Blaise era deveras elegante, e embora Draco se considerasse um homem bonito, a garota era um problema!
Ela era uma trouxa que havia visto magia, e não só isso. Havia os visto fazendo magia. O ministério não podia ficar sabendo de sua missão secreta e agora, ele não sabia como evitar isso caso a trouxa pirasse.
“Ah... Não... Não foi nada. Muito... Muito obrigada.” - agradeceu a morena de forma desajeitada e envergonhada enquanto recebia sua bolsa do bruxo moreno e alto. Ele era verdadeiramente bonito, porém, pensar nisso apenas deixava a morena ainda mais desconfortável. - “Ahn... Blaise, certo?”.
“Sim. É um prazer conhecê-la, senhorita...” - o bruxo já havia se postado de joelhos diante da jovem e beijava sua mão direita de forma elegante.
“Emilly... Pode me chamar de Emilly.” - ela respondeu com um sorriso doce e corado no rosto, Blaise era muito educado e era impossível não sentir-se bem diante dele.
“Emilly... Que nome mais...”.
“Basta!” - Draco reclamou mal-humorado e irritado. Detestava ser deixado de lado, ainda mais naquela situação, quando ele sentia-se um castiçal para o melhor amigo e a trouxa.
“Oras Draco... Não precisa ficar com ciúmes... Emilly tem duas mãos e há terra o suficiente para seus joelhos também...” - Blaise ria da face envergonhada e doce de Emilly, enquanto os olhos cinzas de seu melhor amigo faiscavam furiosos.
“Zabini!” - brandeou Draco cada vez mais irado, caindo na provocação do melhor amigo. - “Estamos no meio de uma missão secreta e uma trouxa...!”.
“Trouxas são pessoas não mágicas...” - explicou Blaise, embora Emilly parecesse estar mais preocupada com outra coisa.
“Pare de lhe explicar as coisas! Ela nem deveria saber de nossa existência e você está lhe explicando tudo como se estivéssemos numa tarde do chá!” - Draco gesticulava furioso com Blaise, balançando sua cabeça enquanto gritava com o mesmo, fazendo seus fios loiros encantadores caírem e saltarem sobre seus olhos cinzas.
Draco estava frustrado, sabia estar caindo na provocação de Blaise sobre a trouxa, mas, ele estava realmente preocupado quanto ao ministério descobrir a presença deles ali. Não sabia como Blaise podia manter a calma, e ainda por cima ser galanteador com a trouxa. O que ele estava pensando?
“Vocês... Ahn...” - após a explosão de fúria de Draco, Emilly parecia um pouco apreensiva. - “Vão apagar a minha memória? Ahn... Com aquele feitiço... Obliviate?”.
Os bruxos se entreolharam confusos... Como ela sabia aquelas coisas?
“Quando... Quando eu era menor eu sempre... Sempre vinha até aqui, e quando descobri algumas anotações perdidas eu... Eu passava toda a tarde aqui lendo...” - Emilly corou bastante, como ela poderia lhe explicar que os reconhecera de primeira quando ainda estava no ar? Como explicar tudo que lera? Como explicar o quanto sonhara que aquilo fosse real? - “Eu... Eu li sobre a sociedade de vocês, e sobre o ministério e também... Também li sobre vocês... Principalmente sobre você, Draco...” - ela então notou a expressão de desagrado do loiro e baixou os olhos, corrigindo-se antes que ele pudesse fazê-lo. - “Perdão, ahn... Senhor Malfoy.”.
Os bruxos estavam completamente confusos, incrédulos diante do conhecimento detalhado da trouxa. Ela não só conhecia algumas de suas regras sociais como também chamara Draco pelo sobrenome, sendo que nem ele e nem Blaise haviam revelado-o à trouxa.
Mas o que estava acontecendo ali?
“Malfoy, eu...” - ela deu um passo na direção dele, porém, Draco colocou sua varinha entre os dois, dando um passo para trás. - “Oras, o que uma trouxa como eu posso fazer contra você?”.
Ela questionara um pouco frustrada uma vez que o bruxo parecia querer fugir dela, porém, a pergunta dela havia ferido seu orgulho latente, era possível ver isso pela forma como ele rangera um pouco os dentes e baixara a varinha, encarando-a com seus olhos cinzas.
Blaise observava ainda boquiaberto a audácia da trouxa de aproximar-se de Malfoy assim... Se ela realmente lera sobre eles, e ele sabia que havia lido, ela deveria saber que Draco era um bruxo perigoso até mesmo para outros bruxos, ainda mais para trouxas. Draco não era como ele.
“O que pretende fazer?” - perguntou Draco com sua varinha ainda em mãos, observando a trouxa que agora não estava a mais de um palmo dele.
“Eu...” - A trouxa respirou fundo, como explicar? - “Quero provar a verdade...”.
Draco não teve tempo de entender o que ela quisera dizer, quando deu por si a garota já estava com as mãos em seus ombros e na pontinha de seus pés, tocando os lábios mornos dele com seus lábios úmidos e macios.
Os lábios da garota eram muito macios, Draco jamais provara lábios iguais. Eram quentes e úmidos, de um contorno tão bem desenhado, parecia ser feito para encaixarem-se aos dele. Draco não ousou abrir seus lábios, não sabia até aonde a garota pretendia continuar com aquilo, o que o deixava apreensivo, não gostava de não poder determinar as coisas, porém, Blaise pode notar o sorriso no canto de seus lábios.
Emilly estava tensa, temia ser atirada contra as árvores quando tocou seus lábios pequenos aos lábios grandes e bem formados de Draco. Eram macios e ainda assim másculos. Claramente desenhados para encaixarem-se perfeitamente ao sorriso orgulhoso dele. Por algum motivo, agora pareciam encaixar-se perfeitamente aos lábios dela também...
Seria isso só mais uma ilusão? Estaria ela conversando, tocando e beijando apenas as árvores daquele mausoléu mal-assombrado?
Mas, tudo parecia ser tão real...
Não... Não podia ser... O hálito fresco de Draco e a forma como seus lábios eram pressionados contra os dela não poderia ser mentira... Mentira, ilusão ou sonho...
Não! Definitivamente ele era real, e junto dele, tudo o que ela já havia lido naquela casa velha e abandonada.
A emoção, porém, fora tanta que a trouxa esquecera-se de respirar, e assim, ela foi obrigada a interromper o beijo quando o ar em seus pulmões acabou.
Seus lábios separaram-se dos lábios do loiro diante de si deixando-a desamparada. Ela abrira os olhos e agora o encarava de forma intensa em seus olhos cinzas.
Draco estava fascinado. Como podia aquela trouxa, senhora dos olhos azuis que lhe encaravam de forma íntima agora, não temê-lo? Não temer seu poder e sua evidente superioridade sobre ela?
Assim como isso lhe fascinava, deixava-o também frustrado. Ela deveria ter reconhecido de imediato a superioridade dele, seu poder, ainda mais se lera sobre ele... E assim, lembrou-se de que Blaise ainda estava ali...
Ela o escolhera, e não Blaise... Isso sim deixava o loiro com um ego ainda maior, mesmo galante, Blaise não fora capaz de roubar a sua conquista.
E foi quando ele notou-se sorrindo de forma tão clara e evidente que o loiro aparatou, desaparecendo antes que a trouxa pudesse fazer qualquer tipo de comentário ou tentativa.
Emilly mantinha seu sorriso morno nos lábios até o bruxo loiro desaparecer diante de seus olhos, forçando seu sorriso a desaparecer, retornando seus lábios ao seu estado relaxado e indecifrável.
Ela olhou em volta em busca de Draco, porém, foi incapaz de encontrá-lo, só lembrando-se da existência de Blaise quando passara os olhos por ele enquanto buscava o outro.
“Ahn... Eu...” - ela começara bastante sem jeito, sem saber o que dizer...
“Ah, não se preocupe! Ele vai ficar bem.” - ele garantiu a garota com um sorriso galante no rosto. Ele, assim como Draco, parecia fascinado pela coragem da trouxa. - “Eu vou atrás dele, ficaria mais tranquila assim?”.
“Sim... ahn...” - ela respondeu sem pensar muito, porém, quando viu Blaise virar de costas, ela não conseguiu se conter. - “Espere Blaise!”
Sua voz saíra um pouco mais alta e urgente do que fora a sua intenção, porém, quando ela viu a expressão de Blaise de quem já esperava por isso, ela apenas sorriu ao mesmo.
“Eu vou vê-los de novo...?” - ela corou, bastante sem jeito por sua pergunta. - “Prometo não contar nada a ninguém para não lhes dar trabalho, mas... Eu poderei vê-los novamente?”.
Ela ofegou diante do bruxo. Que tola. Ele podia apenas virar agora e matá-la com um único feitiço silencioso, e ainda assim ela pedia para vê-los de novo. Prometia seu silêncio em troca de visitas... O que ela tinha na cabeça?
O que ela tinha na cabeça. Essa era exatamente a mesma pergunta que Blaise fizera a si mesmo agora... Porém, ele apenas sorriu, respondendo o que ele queria àquela pergunta, uma vez que Draco não estava mais ali.
“Claro!” - ele respondeu sorrindo, dando uma piscadela marota à trouxa. - “Eu virei buscar o meu...” - e então apontou para os próprios lábios, logo caindo numa gargalhada leve e gostosa. - “Até mais!”
E então, desapareceu, assim como Draco. Deixando-a sozinha.
Sozinha de novo, e ainda mais atrasada, não que isso importasse agora...
...
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