Atalho: 3
- Giovanna Saggiomo
- 5 de mar. de 2016
- 6 min de leitura
Quando acordou estava de volta à sua cama, sozinha em seu quarto, mas o que diabos havia acontecido na noite anterior?
O corpo estava pesado e dolorido, fazendo-a imaginar se era assim se uma pessoa atropelada se sentia.
Era como se todas as terminações nervosas e todos os músculos de seu corpo doessem... Gritassem por socorro e por alívio.
Tentou se levantar, porém, antes mesmo de conseguir sentar acabou cedendo e indo direto de encontro à cama de novo, pesadamente.
Como uma gota de chuva ao atingir uma poça, sentiu enquanto a cama macia parecia sofrer o impacto de seu corpo pequeno, espalhando por toda a sua superfície sua dor e cansaço.
Mas o que diabos havia acontecido?
Como ela fora parar ali em seu quarto? Fez força para tentar levantar de novo, e dessa vez, indo mais devagar, conseguiu sentar-se. Observou que estava de pijamas, e que os braços tinham diversos hematomas e alguns pequenos cortes e arranhões.
Lembrava-se de tê-los batido contra algumas árvores durante a tentativa de fuga, e o ombro também, o que explicava a gigantesca dor no ombro direito.
Não devia estar quebrado, uma vez que ela conseguia movê-lo livremente, mas, ainda doía bastante. As mãos estavam arranhadas e a ponta de alguns de seus dedos pareciam furados, talvez devido às farpas das árvores...
Sabia que o encontro com os bêbados e a tentativa de fuga era real, mas, e o encontro com Blaise e Draco?
Mais uma vez eles haviam desaparecido, e ela não mais sabia se deveria acreditar em seu cérebro ou não. Conhecia as histórias de traumas e sabia bem que seu cérebro era capaz de inventar as mais diversas artimanhas.
Que horas seriam agora?
Que dia seria?
Teria ela só dormido durante um dia ou teria ela dormido vários?
Será que os pais a haviam visto daquela forma?
O que eles haviam pensado?
...
Ela não sabia...
...
Levantou-se então da cama, bem lentamente. As pernas ardiam, como se cada músculo estivesse voltando aos poucos para seu local de origem. Ela podia ouvir enquanto o corpo inteiro estralava, deixando-a com a impressão de ser desmontável, ou talvez, de já estar desmontada.
Moveu lentamente os dedos dos pés, depois, os tornozelos, e aos poucos foi deixando que a dor fosse se tornando alívio ao ver que tudo ali ainda movia-se da forma esperada, embora agora doesse e parecesse mais pesado do que de costume.
Olhou ao redor e não identificou nada de diferente no quarto, ao menos, tudo parecia estar no lugar onde ela havia deixado anteriormente...
Andou até a porta do quarto e tocou a orelha contra a mesma.
Tudo parecia silencioso no corredor dos quartos, o que a deixou ainda mais apreensiva... Tudo parecia misteriosamente sobrenatural, e ela não sabia diferenciar bem se estava apenas sonhando ou se aquela era sua realidade...
Abriu bem vagarosamente a porta de seu quarto, como de costume, a porta rangeu, fazendo com que a trouxa se arrepiasse.
Ela mordeu os lábios e colocou apenas a cabeça para fora do quarto. O corredor estava silencioso, e escuro, porém, parecia estar normal.
Ela deixou então o quarto e acompanhou o corredor até chegar próximo às escadas que dariam na sala. Desceu as escadas vagarosamente, sentindo um arrepio quase sobrenatural em sua nuca, algo que a deixava sem ar embora ela andasse bastante devagar.
A sala também estava vazia. Seria possível que os pais ainda não estivessem ali?
Ouviu um barulho vindo da cozinha e virou-se para lá rapidamente, porém, mais uma vez não viu nada.
Foi quando sentiu uma mão agarrar seu punho com força e puxá-la.
Virou o rosto para ver quem era já fazendo força para tentar resistir, quando olhou mais uma vez para a sala o grupo de bêbados estava ali. Os cinco. Encarando-a com suas expressões deformadas de malícia e suas garrafas quebradas empunhadas.
“Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!”
E então ela abriu os olhos mais uma vez, tendo o corpo lançado para frente e batendo de encontro com outro corpo ali.
"Emy!" - a mãe, uma mulher de cabelos curtos e castanhos a encarava. - "Enfim, você acordou...".
Emilly olhou ao redor assustada, mas as duas pareciam estar sozinhas.
Já era dia, e a mãe acariciava o ombro, onde a filha havia a acertado ao acordar. Ela já estava pronta para o trabalho, Emilly imaginava se ela já estava para sair...
"O... O que houve, mãe?" - Emilly não sabia bem ao certo o que havia acontecido na noite anterior. E sabia ainda menos o que era do conhecimento da mãe...
"Dois meninos te trouxeram para casa..." - ela respirou fundo. - "Parece que você estava sentada num galho. Quando o galho quebrou, você caiu e apagou. Eles viram tudo e resolveram te ajudar... Mas demoraram para descobrir qual era a nossa casa...".
Emilly respirou fundo, realmente Draco e Blaise haviam inventado uma boa desculpa... Ao menos, ela acreditava e esperava que tivessem sido mesmo eles...
"Ahn... Certo...".
"Você não se lembra, querida?".
"Não... Anh... Mas, eu estou bem... Ahn... E esses dois meninos?".
"Ah, um deles era negro e o outro loiro. Eles disseram que viriam ver como você está..." - ela arrumou o cabelo nervosamente. - "Eu... Preciso ir trabalhar, querida. Você vai ficar bem?".
"Claro! Vou sim, mãe. Pode ir...".
"Certo. Vou indo então. Tem comida na geladeira. Eles são seus amigos?".
"Ahn?".
"Os dois meninos.".
"Ah... São sim. Encontrei com eles algumas vezes quando ia para a faculdade. Conversávamos bastante no caminho.". - ela sorriu sem jeito. Não saberia explicar melhor.
"Ah, eles estudam com você?".
"Não... Não são da minha sala não...".
“Está bem... Depois você me conta mais sobre eles então. Tenho que ir agora.” – a mãe olhou-a novamente, parecia dividida entre brigar com a mesma ou lhe oferecer carinho. – “Bem, bom dia.”.
E saiu.
Emilly levantou-se devagar. O corpo doía, mas ela não deu muita atenção à dor. Se Draco e Blaise pretendiam visita-la, ela tinha de ao menos estar vestida, e não de pijamas.
Andou até o guarda-roupa e analisou as opções. Os hematomas nas pernas ainda doíam e ela não queria ter de colocar algo muito pesado sobre eles.
Resolveu colocar um vestido, algo leve e que a permitisse se mover bem, sem ficar raspando nos machucados.
Foi até os cabides e moveu-os lentamente. Passou pelos vestidos de festa, de praia, os de cores muito vivas ou chamativas, e então, encontrou o vestido perfeito.
Era um vestido creme, levemente puxado para o rosa bebê, tinha alças bem finas, o busto era levemente balonê, a partir dele o vestido descia bem solto, até chegar à altura dos joelhos, onde haviam duas camadas de renda comprida para deixa-lo um pouco mais delicado.
Era perfeito. Leve, solto, feminino sem ser excessivamente delicado e sem exageros.
Emilly pegou-o junto de uma faixa para cabelos e algumas outras coisas e foi até o banheiro. As roupas da noite anterior ainda estavam ai, jogadas dentro do cesto de roupas para lavar, o que deixou Emilly um pouco apreensiva.
Até que parte de sua memória aquilo tudo era real? E se tudo era real, como Blaise e Draco realmente haviam encontrado sua casa?
Teve medo de ter dito algo mais e de não conseguir se lembrar, o que a fez repensar se deveria mesmo recebe-los em sua casa...
E se eles ainda estivessem bravos com ela? Draco parecia tão furioso em suas lembranças... Nem ela acreditava que fora tão descuidada...
‘E se eles não tivessem aparecido?’ era tudo o que passava pela mente dela enquanto ela arrancava o pequeno pijama e se lançava sob a água fria do chuveiro.
“Anta...” – reclamou consigo mesma enquanto ela acariciava e buscava limpar o melhor possível os cortes e arranhões que tinha nas pernas.
Eles doíam a cada gota d’água, mas, ela já estava acostumada com isso.
Quando terminou o banho teve de secar-se com ainda mais cuidado do que havia se lavado. A toalha, embora macia parecia uma navalha sobre a pele sensível e já ferida.
Secou-se com cuidado, vestiu-se ainda mais lentamente, sentindo como se os braços não fossem aguentar puxar o vestido um pouco para baixo para que ele se assentasse melhor em seu corpo.
Sem saber como, conseguiu, encaixou-se no vestido, passou a faixa do mesmo tom do vestido pelo cabelo e calçou um tamanco baixo que combinava.
Desceu as escadas de forma cuidadosa, mas, sem grandes dificuldades, até chegar à cozinha, onde se serviu de algumas cerejinhas de natal.
Embora ainda estivesse cedo para o Natal os mercados pareciam ter começado a vendê-las mais cedo. ‘Culpa do calor’, em sua opinião.
Tudo parecia estar começando mais cedo, a época em que todos enchem suas piscinas, os enfeites de natal, as crianças nas ruas, as praias lotadas, os banhos de uma hora, as cerejas, até mesmo os enfeites de natal.
Parecia que esse ano todos estavam enlouquecidos pelo natal e pelo fim do ano...
Ela até entendia, o ano não havia sido fácil para ninguém... Mas não entendia no que adiantar o natal ajudaria para que o ano acabasse mais rápido.
Subiu, escovou os dentes, arrumou o cabelo de novo e desceu até a sala, aonde se atirou contra o sofá.
Estava ainda tão cansada... Tão exausta... ‘Um cochilo caíria bem...’.
E assim, adormeceu.
...
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